A aposta que virou moda: uma retrospectiva sobre as seleções públicas no Brasil
*Texto escrito por Marina Cano, sócia da Legisla Brasil, uma sociedade sem fins lucrativos que acredita no poder das equipes em transformar a política.
Se você já leu qualquer livro sobre negócios ou organizações com bons resultados, eu duvido que não tenha aprendido que as pessoas certas são a chave para seu sucesso. Sabendo disso, parece até óbvio que ter os melhores profissionais, aqueles mais qualificados e diversos, no legislativo deveria ser uma premissa básica. Hoje, felizmente, já podemos dizer que é prática cada vez mais recorrente que os legisladores abram seleções públicas para atrair esses bons profissionais para este meio tão estigmatizado que é a política. Mas não foi sempre assim.
Quando surgiu a ideia da Legisla Brasil de selecionar equipes políticas por meio de chamadas públicas, não faltou gente dizendo que a intenção era legal, mas que não ia dar certo na realidade brasileira. Ou que não fazia sentido selecionar equipes de maneira pública e objetiva para compor vagas de confiança (cargos comissionados) dentro de uma realidade tão particular como um mandato. Mas resolvemos apostar que a política poderia funcionar melhor se existissem portas claras e justas para o acesso ao trabalho na política.
O que observamos, ao longo dos últimos três anos, foram parlamentares adotando um modelo híbrido, no qual acomodam quem já construía o projeto político, com novos corpos para ter uma equipe ainda mais forte. As seleções viabilizadas por organizações parceiras de mandatos conseguiram trazer mais credibilidade para os cidadãos, uma vez que o processo acontecia por um agente terceiro – evitando possíveis favoritismos. Hoje, seleção virou moda e a cada novo processo de recrutamento público, aumenta a pressão social para que demais mandatos abram as portas de seus gabinetes.
Nas eleições municipais de 2020 sabíamos que o contexto local seria desafiador para que tantas portas fossem abertas, dadas as particularidades de cada região. Ainda assim, de norte a sul, vereadores(as) buscaram as mais diferentes formas para compor equipes que fossem qualificadas e tivessem mais a cara de suas cidades e propostas. Fizeram parcerias com primeiro e terceiro setor e até processos internos; tudo para ter as pessoas certas em sua equipe.
Por aqui, fico feliz com a nova tendência e sigo apostando no recrutamento e seleção de bons profissionais para a política. Com esse novo cenário, ouso dizer que nas próximas eleições, teremos seleções públicas como regra e não como exceção para deputados comprometidos com a boa política. Cada vez mais teremos novos corpos na política e melhores caminhos para que os profissionais comprometidos, que já atuam no setor, consigam transitar bem entre mandatos e, de fato, construir uma carreira na política. A atração, seleção e manutenção destes profissionais no legislativo é crucial para que o Brasil consiga avançar com políticas estruturais, construindo o futuro da nossa sociedade.