Eleições amanhã, política hoje
Vítor Oliveira
O arranjo político que mantém Bolsonaro no comando do Governo depende, cada vez mais, de sua capacidade de se mostrar competitivo nas próximas eleições – algo sólido em função do piso de sua aprovação, mas longe de estar garantido dado o cenário desafiador à frente.
Diferentemente do primeiro ano de mandato, quando era comum observarmos a avaliação do Governo distribuída em três terços precisos, as informações mais recentes sugerem uma estabilização dos apoiadores nos patamares mais baixos desde 2019, ao passo em que a avaliação negativa ganhou adesões significativas, comprimindo-se a faixa intermediária.
Acentua-se, assim, um cenário de polarização, em que poucos estão indiferentes ao Governo, muitos ainda o apoiam e muitos mais o rejeitam. Ame-o ou deixe-o, poderia ser o lema bolsonarista, tendo em vista sua base social e política tão afeita à ditadura. Não que a Faria Lima se importe – ainda.
Mantido o cenário, Bolsonaro parte de um patamar relevante e nada desprezível para chegar ao segundo turno, quando uma batalha de rejeições poderia reconduzi-lo à Presidência da República por mais 4 anos. A questão é se o cenário atual será de fato mantido.
Uma aposta dos governistas, expressa também pelo senador Ciro Nogueira (PP/PI), está na recuperação econômica e no sucesso da – até aqui lenta – campanha de vacinação, algo reforçado pelos sinais animadores provenientes do crescimento da economia, conforme noticiado nesta semana.
Embora haja uma extensa literatura sobre a relação entre economia e eleições, bem como um imaginário popular entre as elites acerca da centralidade do crescimento econômico, o que vemos no Brasil atualmente é uma retomada concentrada no agronegócio e nos setores primários, com baixa influência sobre o mercado de trabalho.
Ainda que seja razoável esperar que o aumento da taxa de investimentos e os resultados no campo eventualmente sejam traduzidos em recuperação do emprego e renda, haverá tempo suficiente para que o apoio ao Governo seja beneficiado por isso?
Esta incerteza, somada ao fim do auxílio emergencial e ao avançar da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada no Senado Federal para apurar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de COVID-19 pode ser, sim, um fator de mudança no delicado tecido político bolsonarista.
As principais linhas de defesa do Planalto na CPI, até aqui, são generais de pouca relação orgânica com o bolsonarismo, como Fernando Bezerra Coelho, o próprio Nogueira e o ex-pedetista Marcos Rogério. Não é difícil ver tais forças batendo em retirada caso não haja sinais de melhoria ou de impacto positivo em suas disputas estaduais.
É a ausência de apetite do bolsonarismo pela construção de políticas públicas, até aqui, que abre espaço para que tais atores influenciem o governo dos bastidores, sem partilharem do governo formalmente. No longo prazo, talvez não haja mais políticas públicas a serem influenciadas, dada a sanha presidencial pela desarticulação institucional do país.
Nada impede, desta forma, que o presidente passe a sofrer um processo de patomanquismo gradual, conforme nos aproximamos das próximas eleições. Não seria agudo, contudo, como foi com Michel Temer. Ainda assim, é possível ver a migração de apoios políticos para a oposição ou alternativas apresentadas até aqui.
Embora Arthur Lira (PP/AL) comande a pauta da Câmara dos Deputados com grande afinamento em relação ao Planalto, os sinais eleitorais poderão ser fundamentais para o avançar do que foi planejado – especialmente as agendas em que o presidente da Câmara colocaria sua assinatura: reformas eleitoral, tributária e administrativa.
Até mesmo a esperança equilibrista dos que buscam uma 3ª via a Bolsonaro e Lula parece pouco razoável, quando olhamos o histórico das eleições presidenciais no Brasil – altamente polarizadas, com exceção de 1989. 2018 representou uma substituição do representante antipetista, não o fim da polarização.