Ana Paula Massonetto e Andréia Pereira

Possivelmente você já ouviu falar no nome de Greta Thunberg. A jovem tem sido a porta voz da pauta das mudanças climáticas desde que ficou conhecida em 2018, aos 15 anos, pelos seus protestos no prédio do Parlamento da Suécia. Ela entrou na lista de pessoas mais influentes da revista Time e foi indicada duas vezes consecutivas para o Prêmio Nobel da Paz.

Greta mostrou que quando se trata de cuidar do futuro, ninguém melhor do que os jovens, participando desde já das decisões que impactarão suas vidas no presente e nas próximas décadas.

Mas o que permite ou promove jovens engajados com a resolução de problemas coletivos, para além do desejo individual? Dados sobre as diferentes juventudes que compõem o Brasil mostram que essa questão é mais estrutural do que pensamos.

Atualmente, temos cerca de 50 milhões de jovens no Brasil, que representam cerca de ¼ de toda nossa população. A maioria desses jovens, perto de 61%, são pessoas negras. Os jovens negros possuem três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do Rio de Janeiro (dados do Instituto de Segurança Pública) e representam mais de 70% das vítimas de intervenções policiais (dados do Atlas das Juventudes).

Além disso, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos ficou em 27,1% em 2020, acima da média nacional de 12,2%. E os trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos foram os mais prejudicados pela pandemia do Coronavírus (dados do IPEA). Com desemprego e a defasagem na aprendizagem em função do fechamento das escolas na pandemia, existe um risco eminente de que tenhamos uma “geração perdida”, se políticas públicas voltadas para os jovens não forem postas em prática.

Os dados apresentados mostram a emergência e urgência da juventude e das políticas transversais ligadas a ela no debate público. Mas como é possível uma juventude engajada no Brasil se boa parte dela está apenas tentando sobreviver, dia após dia?

Proporcionalmente ao tamanho da população, a participação de jovens na política ainda é baixa. Os jovens na faixa de 16 a 24 anos constituem 13,28% dos eleitores do Brasil (TSE), mas apenas 1,86% deles estão filiados a partidos políticos, requisito básico para o acesso à política institucional.

Há muitas barreiras para que os jovens tenham acesso aos espaços de poder, desde a desigualdade de acesso aos recursos financeiros para campanhas, passando pela falta de credibilidade, somados ao machismo e racismo e outros desafios transversais.

Mas a pesquisa Jovens no Poder, do Instituto Update, mostra que existem jovens com potencial influenciando e promovendo transformações a partir das suas práticas. Em 2020, de 58.011 posições para vereadores e vereadoras, tivemos 4.097 jovens eleitos e 115 jovens, entre 21 e 29 anos, foram eleitos para o Executivo, comandando 2,11% dos municípios brasileiros.

Na política institucional, ao se distanciarem da figura do político tradicional, jovens introduzem e influenciam algumas práticas inovadoras. Ações como gabinetes itinerantes para promover educação política, estabelecimento de frente parlamentares suprapartidárias para a troca de experiências entre mandatos, processos de prestação de contas mais lúdicos e descomplicados (nas redes sociais e nas ruas), promoção de mandatos abertos e com envolvimento de coletivos na tomada de decisão dentro dos gabinetes e projetos de cyberdemocracia  são apenas algumas das práticas disruptivas, mencionadas na pesquisa, que os jovens vem promovendo para aproximar a política do cotidiano das pessoas.

Há muitos caminhos a serem conquistados nesse sentido e ele vem sendo construído por meio de iniciativas de diferentes setores, para fomentar uma maior participação dos jovens na política. Afinal, apenas com colaboração de diferentes atores poderemos deixar a política com a cara da juventude.

Por isso, nosso convite para 2022 é: que tal apostar na juventude?

Imagem: Reprodução