A força dos (ex) governadores nordestinos na eleição para o Senado Federal
Luciana Santana
Nas eleições de 2018, a região nordeste seguiu em direção oposta a outras regiões do país, além de votarem majoritariamente no candidato petista Fernando Haddad[1](PT), reelegeram e elegeram governadores alinhados ideologicamente ao centro-esquerda. O PT tinha conquistado quatro estados. Rui Costa, Camilo Santana e Wellington Dias foram reeleitos na Bahia, Ceará e Piauí, respectivamente, e Fátima Bezerra foi eleita no Rio Grande do Norte. O PSB elegeu o governador João Azevedo na Paraíba e reelegeu Paulo Câmara em Pernambuco. O PC do B reelegeu Flávio Dino no Maranhão, o PSD reelegeu Belivaldo Chagas tendo como vice a petista Eliane Aquino em Sergipe e Renan Filho foi reeleito em Alagoas (MDB).
Essa configuração possibilitou, por exemplo, a criação do Consórcio Nordeste, em 2019, manteve forte o vínculo entre os governadores para garantir cooperação no enfrentamento da pandemia de Covid-19[2], além de outras ações na região ao longo do mandato.
A situação na eleição deste ano, entretanto, segue outro caminho e a composição de forças partidárias na região deve ser alterada, tornando-se mais diversa ideologicamente.
Qual a situação atual dos (ex) governadores nordestinos? Dos 9 governadores eleitos em 2018, apenas dois têm a possibilidade de disputar a reeleição, como é o caso dos governos de Rio Grande do Norte e Paraíba. Os governadores da Bahia, Sergipe e Pernambuco continuam nos seus respectivos mandatos e os ex-governadores de Alagoas, Ceará, Maranhão e Piauí são candidatos ao Senado Federal.
Rumo à reeleição
Fátima Bezerra tem apresentado bom desempenho nas pesquisas eleitorais e deve ser reeleita ainda no primeiro turno, de acordo com a última pesquisa IPEC (09/09/22). O governador João Azevedo tem uma situação menos confortável, e apesar de liderar as pesquisas com certa folga e ter chance de ser reeleito, deve disputar o segundo turno contra o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB).
Ambição política em modo “pausado”
Três governadores permanecem nos cargos atualmente e não estão disputando nenhum cargo na eleição deste ano, são eles: o baiano Rui Costa (PT), o pernambucano Paulo Câmara (PSB) e o sergipano Belisário Chagas (PSD). Poderíamos dizer que a ambição dos três governadores está em modo de pausa e ainda estão diante do desafio difícil de conseguir emplacar os seus sucessores.
Rumo ao Senado Federal
Tudo indica que, das 9 vagas de senadores nordestinos a serem renovadas este ano, 4 delas podem ser ocupadas por ex-governadores, um caminho natural dentro da trajetória política de quem já ocupou cargo no Executivo estadual. Essa expectativa existe porque os candidatos Renan Filho (MDB), Camilo Santana (PT), Flávio Dino (PSB) e Wellington Dias (PT) vem apresentando bom desempenho nas pesquisas eleitorais e com boa distância em relação ao segundo colocado.
Caso sejam eleitos, os ex-governadores vão ocupar as vagas de quais senadores?
Fernando Collor de Mello (PTB) decidiu não concorrer à reeleição e optou por disputar o governo de Alagoas. Assim, a situação do ex-governador Renan Filho (MDB) é bastante confortável para garantir uma vaga ao lado do seu pai Renan Calheiros. Ele aparece, na última pesquisa IPEC (01/09/22), com 56% das intenções de votos contra 17% de seu principal adversário hoje apoiado por Arthur Lira (PP), Davi Davino Filho (PP).
O senador Tasso Jereissati (PSDB) abriu mão da reeleição e não está disputando nenhum cargo deste ano. Camilo Santana (PT) também deverá ser eleito no Ceará com boa folga em relação aos adversários, apareceu com 66% das intenções de votos na última pesquisa IPEC (09/09/22).
O senador maranhense Roberto Rocha (PTB) está buscando a reeleição e tem como principal adversário o ex-governador Flávio Dino, que atualmente está no PSB. Entretanto, as pesquisas mostram uma situação mais favorável ao ex-governador que aparece com boa vantagem, 50% das intenções de votos, contra 21% de Rocha.
No Piauí, o ex-governador Wellington Dias (PT) deve ser eleito senador na vaga do senador Elmano Férrer que disputa uma vaga na Câmara dos Deputados. A última pesquisa IPEC (23/09/22) mostrava Dias com 49% das intenções de votos contra 10% de Joel Rodrigues (PP) que conta com apoio do ministro Ciro Nogueira.
Mais reforços no Senado Federal
A bancada nordestina no Senado ainda pode ser reforçada com a eleição de outros candidatos apoiados por governadores atuais ou que estão alinhadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O candidato à reeleição na Bahia, Otto Alencar do PSD, é apoiado pelo governador Rui Costa e tem apresentado o melhor desempenho eleitoral no estado. Na Paraíba, Ricardo Coutinho (PT) lidera as pesquisas de intenção de voto. No Rio Grande do Norte, o candidato Carlos Eduardo (PDT) lidera as pesquisas com 27% e, apesar de ser filiado ao partido de Ciro Gomes, faz parte da coligação petista no estado.
A situação em Pernambuco e Sergipe são as menos definidas. O destino da vaga que atualmente é ocupada pelo ex-líder do governo Bolsonaro, Fernando Bezerra Coelho (MDB) vem sendo fortemente disputada entre Teresa Leitão (PT), André Paula (PSD) e Guilherme Coelho (PSDB).
A senadora sergipana Maria do Carmo Alves (PP) também deixará o mandato. A definição do novo ocupante da vaga está bastante indefinida, sendo disputada de forma acirrada entre Valadares Filho (PSB) e Eduardo Amorim (PL).
2018 pode se repetir, mas em outra arena
Pelo panorama geral nas disputas estaduais atuais, é possível afirmar que o resultado eleitoral de 2018 obtido pelos governos estaduais dificilmente irá se repetir na eleição de 2022. Entretanto, há possibilidades reais de que uma composição partidária alinhada ideologicamente no eixo de centro-esquerda (ou apoiados por Lula) ocorra com a eleição de novos senadores/as para representar os estados nordestinos no Senado Federal. Em pouco menos de 20 dias poderemos confirmar se essa situação irá se confirmar (ou não).
[1] A exceção foi o estado do Ceará no primeiro turno, escolhendo Ciro Gomes como o principal presidenciável. No segundo turno, os eleitores cearenses optaram majoritariamente por Fernando Haddad.
[2] Perez, O. C., & Santana, L. (2020). Ações do Consórcio Nordeste no combate à pandemia de Covid-19. NAU Social, 11(21), 259–270. https://doi.org/10.9771/ns.v11i21.41997.