Carolina de Paula

Toda eleição é a mesma repetição, basta ligar a televisão ou o rádio em determinado horário do dia para ouvirmos uma série de ilustres desconhecidos vestidos com seu melhor traje (ou mais exótico) tentando desesperadamente em míseros segundos chamar a atenção do eleitor narrando seu nome, número e promessa. O tema é tão batido que esse ano nem os comediantes fazem mais os tradicionais quadros de paródias, também sofríveis, diga-se de passagem.

Com a redução da duração das campanhas eleitorais nos últimos anos (de 90 para 45 dias) a partir da falaciosa justificativa de barateamento das campanhas – o que é mentira porque o custo segue altíssimo, só ficou mais concentrado – sou daquelas que ainda acredita no potencial educativo do horário eleitoral. Sabemos que o cidadão comum não tem tempo nem disposição para buscar ativamente informação sobre os candidatos e partidos. A televisão vem perdendo a importância frente à internet/redes sociais? É óbvio que sim. Contudo, o argumento de que o horário gratuito de propaganda eleitoral para os cargos legislativos deveria acabar não leva em consideração o que ele poderia ser em um contexto de crescente desvalorização da representação política parlamentar. O atual modelo da propaganda eleitoral no rádio e TV para os cargos de deputado e senador deve acabar? Se quisermos mais um elemento que fortaleça a importância da representação do Congresso, sem dúvida.

A crise de imagem pela qual passa o Legislativo não é exclusividade brasileira, nem tampouco é novidade. Dessa forma, bombardear um eleitor já desmotivado com o Congresso a uma exposição de propagandas tragicômicas –  e ainda por cima cara aos cofres públicas – faz com que o sentimento de inutilidade dele seja potencializado. É o que tenho observados nas pesquisas de opinião qualitativas com eleitores de Norte a Sul. Uma peça publicitária feita por uma campanha estruturada e séria, devidamente testada em pesquisas internas, facilmente se perderá atolada naquele mundo de candidatos berrando o próprio número e nome em trocadilhos infames. Afinal, os candidatos ao Legislativo já enfrentam a desigual luta pela atenção do eleitor protagonizada e vencida pelos candidatos ao Executivo, que a meu ver deveriam ser em datas distintas, mas isso é tema para uma outra conversa.

Qual a alternativa? Sabemos que os partidos no Brasil são atores centrais na organização da disputa eleitoral, são eles que definem as listas de candidatos e distribuem os recursos financeiros para as campanhas dos seus filados. Se a lógica da distribuição de recursos públicos é partidária, devido ao número de deputados eleitos no pleito anterior para a Câmara dos Deputados, o uso do tempo específico para a campanha de deputados também poderia ser usado para fortalecer a legenda no Congresso. Não se trata de transformar esse tempo em uma mera propaganda partidária – até porque já temos regulamentado o tempo destinado aos partidos –, mas sim de criar regras que forcem os partidos a divulgar seu trabalho no Congresso na legislatura que se encerra e apresentar suas propostas para a próxima.

Em toda pesquisa de opinião pública sobre os pleitos legislativos a maior carência declarada é  conhecer as propostas dos candidatos. Tenho certeza de que o modelo de propaganda vigente mais atrapalha do que ajuda a conquista desse objetivo. Assim, um novo foco para a propaganda eleitoral traria benefícios aos partidos e os eleitores, e indiretamente ao Congresso que precisa passar urgentemente por uma limpeza da sua imagem institucional.  Ainda seria uma gota no oceano, mas já seria um começo.