Eleições estaduais – resumo dos estados e tendências destacadas
Autoria – turma de pós-graduandos em Ciência Política na FESP-SP em exercício da disciplina de Análise Política.
Em 2022 os eleitores brasileiros escolheram governadores e vices nos 27 estados do país. Na maioria deles (15) o pleito foi decidido em primeiro turno, com o vencedor acumulando mais da metade dos votos válidos. Em outros 12 estados, a exemplo do pleito presidencial, a disputa teve um segundo turno entre os dois primeiros colocados. Houve virada em apenas quatro deles, com destaque para o Rio Grande do Sul, onde Eduardo Leite retirou vantagem de 11 pontos de Onyx Lorenzoni (PL). Em Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Sergipe os placares da primeira rodada foram mais equilibrados. Abaixo uma compilação dos principais aspectos dessa eleição:
PARTIDOS – O PT e o União Brasil foram os partidos que mais elegeram governadores no país, com quatro cada um. A sigla de esquerda, mesma do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, se destacou, como previsto, na Região Nordeste, elegendo os chefes do Executivo da Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país, além de Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte – estados já conquistados em 2018. Já o União Brasil reelegeu governadores em regiões com forte predominância da atividade agropecuária. No Norte foram dois estados: Amazonas e Rondônia. Os outros dois estão no Centro-Oeste: em Mato Grosso e em Goiás. Três partidos elegeram, cada um, três governadores. São eles o MDB – que se manteve no Pará, Alagoas e DF; o PSDB, que vai governar o Rio Grande do Sul, o Mato Grosso do Sul e Pernambuco, todos conquistados em segundo turno; e o PSB, que chefiará o Executivo do Maranhão, Paraíba e Espírito Santo. PL, PP, PSD e Republicanos elegeram dois governadores cada. O Novo e o Solidariedade, um governador. A eleição para os executivos estaduais mostra um Brasil mais à direita, com 13 conquistas, sendo que MDB e PSDB, classificados ao centro, terão seis governos estaduais. A esquerda, com as seis vitórias no Nordeste, totalizou oito estados, incluindo o Solidariedade no Amapá e o PSB no Espírito Santo.
FORMAÇÃO DE COLIGAÇÕES – A média das siglas partidárias que compõe as coligações vencedoras para os pleitos de governadores é de 8,5, sendo que os estados que se destacam acima deste resultado são o Pará com 16 partidos, Rio de Janeiro (14), Goiás (12), Espírito Santos e Paraná com 11 cada um. Importante salientar, nesses casos, que todos eles são reeleições, o que reforça a ideia de que o incumbente teria facilidade para montar chapas mais robustas e extensas. Se considerarmos apenas os governadores eleitos em 2018 e reconduzidos nominalmente em 2022, essa média sobe para 9,5 partidos por aliança. Reforçam este argumento as eleições de dois estados onde o grupo político que está no poder foi derrotado. Em Santa Catarina, o eleito Jorginho Melo disputou a eleição isoladamente pelo PL, e em Pernambuco, Raquel Lira (PSDB) reuniu apenas mais dois partidos à sua coligação – Cidadania e PRTB. A média por aliança de vencedores em estados que elegeram grupos políticos que foram adversários de quem está no poder é de 5,5 legendas.
STATUS DOS ELEITOS – Nesse pleito chama a atenção a quantidade de governadores que concorreram à reeleição, sendo que de um total de 20 candidatos, 18 deles conseguiram manter seus cargos. As exceções foram Rodrigo Garcia (PSDB), em São Paulo, e Carlos Moisés (Republicanos), em Santa Catarina, que sequer conseguiram chegar ao segundo turno. Deter a máquina pública e ter um bom desempenho durante seu governo são fatores que historicamente influenciam eleições, podendo até mesmo garantir a recondução do mandatário. Uma evidência disso é que dos 18 governadores que foram mantidos em seus cargos 67% venceram em primeiro turno, alguns deles com votações consideráveis, a mencionar Helder Barbalho (MDB), no Pará, e Ratinho Junior (PSD), no Paraná, com 70% dos votos válidos.
Assim, a quantidade de cinco governadores eleitos que conseguiram desbancar os grupos políticos no poder atualmente reforçam a dificuldade que é concorrer contra a máquina pública e uma plataforma de divulgação já pré-estabelecida.
DEPUTADOS ESTADUAIS ELEITOS PELO PARTIDO DO GOVERNADOR – Se olharmos para a governabilidade do ponto de vista estritamente partidário, apenas um governador alcançou virtual estabilidade ao conquistar maioria na Assembleia Legislativa contando somente com os deputados estaduais eleitos pelo seu partido. É o caso de Paulo Dantas, do MDB de Alagoas, que contará com o apoio de 14 deputados emedebistas (51,85%) de um total de 27 da AL. A título de comparação, apenas outros dois governadores garantiram cerca de um terço da respectiva Assembleia Legislativa com deputados de seu partido: o piauiense Rafael Fonteles (PT), com 12 deputados (40% do total); e o paraense Helder Barbalho, do MDB do Pará, com 13 deputados (32% do total). Na outra ponta, com o pior desempenho dentre os 27 governadores eleitos, está o mineiro Romeu Zema (NOVO), reeleito para um novo mandato com apenas dois deputados eleitos pelo seu partido, ou menos de 3% das 77 cadeiras da assembleia mineira. No Amapá, o percentual não é tão crítico, mas o governador eleito Clécio Luís (SD) também só elegeu duas cadeiras. Completa esta lista de baixa representatividade partidária em termos de volume: Raquel Lira (PSDB-PE), Antônio Denarium (PP-RR), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Fátima Bezerra (PT-RN), Gladson Camelli (PP-AC) e Renato Casagrande (PSB-ES) com três parlamentares cada.
DEPUTADOS ESTADUAIS ELEITOS PELA COLIGAÇÃO DO GOVERNADOR – Se alguns governadores tiveram problemas com a representatividade de seus partidos no Legislativo, muitas das coligações deram margens aparentemente confortáveis aos eleitos. Assim, as eleições de 2022 nos mostram que as alianças formadas pelos governadores escolhidos serão maioria em suas assembleias legislativas em 18 estados, com destaque para as regiões Centro-Oeste, onde isso acontecerá em todos os estados, e Norte, com exceção do Acre. A coligação do governador eleito pelo Mato Grosso, Mauro Mendes (UBR), é a que obteve a maior porcentagem de cadeiras na Assembleia entre todos os estados do país com 75%, tendo eleito 18 dos 24 deputados. No Pará, Helder Barbalho (MDB) terá o possível apoio de 85% dos parlamentares eleitos por legendas coligadas (35 de 41), e no Amazonas, Wilson Lima (UBR) parte de 79%, com 19 dos 24 parlamentares. Outros estados onde os governadores terão maioria superior a 66% das cadeiras, são: Piauí (73,33%, com 22 das 30 vagas) e Paraná (66,67%, com 36 das 54).
Por outro lado, em nove estados, as coligações eleitas para o Poder Executivo não conseguiram formar maioria nos parlamentos. A aliança da governadora eleita por Pernambuco, Raquel Lyra, foi a que obteve o pior resultado, com pouco mais de 6%, tendo eleito apenas 3 dos 49 deputados. Outros governadores que podem encontrar dificuldades iniciais e terão que compor acordos com adversários para governar estão em: Santa Catarina, onde Jorginho Mello fez apenas 27,5% das cadeiras (11 das 40), e o governador reeleito por Minas Gerais, Romeu Zema, onde sua coligação obteve apenas 28,57% das cadeiras (22 das 77).
GÊNERO – Apenas duas mulheres foram eleitas para ocuparem cargos de governadoras no Brasil em 2022, o que significa 7% das unidades federativas do país. Ambas estão no Nordeste, onde Fátima Bezerra (PT) foi reeleita no Rio Grande do Norte, e a ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lira (PSDB), com uma vice mulher, venceu uma adversária no segundo turno em Pernambuco. A despeito do reduzido número de mulheres no cargo, em 2018 apenas a governadora potiguar havia conquistado a posição, o que representa aumento de 50%. Atualmente, no entanto, três mulheres estão no poder em seus respectivos estados: a já citada Fátima Bezerra (RN), e a dupla Regina Sousa (PI) e Izolda Cela (CE). Ambas foram eleitas vice-governadoras em 2018, respectivamente, de Wellington Dias e Camilo Santana, que se desincompatibilizaram no primeiro trimestre e conquistaram, em outubro, as vagas do Senado de seus respectivos estados pelo PT. Tanto Sousa (PT), quanto Cela (PDT), não foram indicadas por seus partidos para disputarem a reeleição, sendo que após ser preterida, a cearense se desfiliou de sua legenda.