Humberto Dantas

 

O governo de Lula deve retomar a prática de possuir diversos ministérios. Estima-se que a equipe contará com mais de 30 membros, e tal característica não está indissociavelmente ligada a mais gastos públicos, tampouco à corrupção, como afirmaram os dois últimos presidentes da República que tentaram governar com base num discurso saneador populista – Fernado Collor (1990-1992) e Jair Bolsonaro (2019-2022). A complexidade estrutural e a lógica política de um governo é infinitamente mais complexa do que a contagem de pastas. Ademais, culpar a esquerda por inflar a máquina federal com ministérios é fechar os olhos para o que governadores de direita fazem nos estados com suas secretarias, o mesmo ficando evidente em relação a prefeitos nos municípios. Assim, a primeira questão é: respostas óbvias caem num senso comum desnecessário, num discurso rasteiro de quem combate o que não gosta com asneiras infantis para agradar a ignorância da plateia ou a estupidez do espelho.

Dito isso, e a despeito dos diversos ministérios e cargos estratégicos que serão criados e indicados, o presidente eleito prometeu divulgar nomes após a sua diplomação, ocorrida no dia 12 de dezembro. Na sexta-feira dia 09, porém, apareceram os primeiros cinco titulares, sendo que o ritmo se desintensificou esta semana. Quando Lula vai ter a equipe completa? Em sua cabeça, segundo a imprensa, já estariam todos os desejados.

Dito isso, o intuito é compreender o espaço do ministério até agora divulgado no parlamento. Quantos ministros possuem experiência no Legislativo, quantos desfalcarão as casas congressuais e quem entraria no lugar dessas figuras?

Entre os cinco indicados sexta-feira, dia 09, Fernando Haddad não tem experiência como titular de parlamentos e ocupará a Fazenda, a ser recriada a partir da desoxigenação do superministério da Economia. Nas Relações Exteriores, Mauro Vieira, que ironicamente serve o país na Croácia, a seleção algoz do Brasil na Copa do Mundo, também não tem. Ambos foram ministros, o primeiro de Lula e Dilma, o segundo apenas dela. Já esta semana, um sexto nome surgiu: a artista soteropolitana Margareth Menezes, que dentre várias frentes se destacou mundialmente na música. Sua carreira político-partidária-eleitoral se restringe a movimentos sociais e representações de causas, o que não a impede de ocupar bem a posição.

Já Rui Costa, que era cotado para ser senador pelo PT da Bahia e terminará seu oitavo ano de governo estadual na cadeira de titular depois de eleger Jerônimo Rodrigues como sucessor pelo PT, impondo derrota a ACM Neto, já teve experiências legislativas e será ministro da Casa-Civil. Foi vereador de Salvador eleito em 2004, depois de uma tentativa em que ficou na suplência em 2000; e deputado federal escolhido em 2010, após uma derrota para o cargo em 2006. É visto como político habilidoso, tendo atuado na articulação institucional durante parte do governo de seu antecessor, o hoje senador Jaques Wagner (PT). Vindo do PTB, legenda marcada pelo histórico criminoso e psicologicamente desequilibrado de Roberto Jefferson, chega ao ministério, em cota pessoal do presidente eleito, José Múcio Monteiro. De família política de Pernambuco, foi eleito para cinco mandatos de deputado federal, entre as eleições de 1990 e 2006, por legendas como o PFL (antigo DEM e hoje União Brasil) e PTB. Na Câmara chegou a ser líder do governo Lula, ocupou ministério estratégico e foi indicado para o Tribunal de Contas da União, órgão que chegou a presidir e no qual se aposentou em 2020. Sua experiência política o coloca como nome que agrada as Forças Armadas no controle da pasta da Defesa.

Por fim, Flávio Dino vai ocupar o Ministério da Justiça. Depois de governar o Maranhão por quase oito anos, deixou a posição no começo de 2022 para se candidatar ao Senado. Além de fazer seu vice para mais quatro anos no governo estadual, foi eleito com folga para a representação maranhense na casa alta legislativa. Dino tem como primeira suplente uma política jovem, de 38 anos. Trata-se da empresária e enfermeira Ana Paula Dias Lobato Nova Alves, que foi eleita vice-prefeita de Pinheiro em 2020 e chamou positivamente a atenção por algumas de suas ações – ela já havia sido derrotada na disputado pelo cargo e tentado ser deputada federal em 2014, sem sucesso. Ademais, seu marido preside a Assembleia Legislativa do estado, e reeleito em 2022, teria articulado apoio ao governador Carlos Brandão, do PSB, aliado de Dino, se afastando da candidatura de Weverton Rocha pelo PDT, ex-partido de Ana Paula. A questão aqui carrega um insistente dilema para a formação do governo Lula: retirar do parlamento políticos extremamente experientes que poderiam conter a tropa de choque eleita do bolsonarismo, principalmente pelo PL em 2022, dando espaço a suplentes menos vividos no universo político, sobretudo, em Brasília. Outros nomes devem passar por situações semelhantes, sendo Camilo Santana (PT-CE) eleito senador pelo Ceará um possível emblema adicional de tal realidade. Até o anúncio completo de todo o ministério será possível dimensionar o verdadeiro impacto da equipe de Lula no parlamento, e do Legislativo sobre tal realidade.