Carolina de Paula 

Após o período de folia do Carnaval, a pauta do Congresso sinaliza intensificação neste primeiro semestre, especialmente ao considerarmos que a segunda metade do ano será fortemente influenciada pelas eleições municipais, quando o ritmo de trabalho em Brasília tende a reduzir nessa etapa. As eleições municipais, conhecidas como intermediárias, frequentemente são mencionadas na mídia como um “termômetro” para o próximo pleito geral. Ou seja, as escolhas de outubro de 2024 serão um teste do que aguarda em 2026, especialmente no que se refere ao crescimento ou declínio dos partidos políticos nos Executivos municipais e, por conseguinte, à configuração do panorama partidário no Congresso.

A expectativa não se mostra infundada ao observarmos as conexões entre deputados federais e membros da política local, prefeitos e vereadores. Nas campanhas políticas brasileiras, há uma articulação entre essas duas esferas, não de forma generalizada, é claro. Deputados se engajam nas eleições municipais, seja para retribuir os esforços das lideranças municipais na campanha, seja para preparar o terreno para sua própria reeleição. Prefeitos e vereadores desempenham o papel de cabos eleitorais dos deputados em seus municípios, tanto na campanha quanto no dia a dia da política.

É relevante destacar o impacto do apoio do governo, presidente e ministros, em contextos municipais de conflito partidário diante da atual coalizão, já considerado incongruente por alguns aliados. No entanto, é importante lembrar que há limites para inferências sobre as conexões da política nacional com a municipal. Sabemos que, em nível nacional, PT e PL rivalizam, principalmente através de suas maiores lideranças, Lula e Bolsonaro. No entanto, pesquisas qualitativas realizadas pelo Instituto Phronesis e outros institutos de opinião pública mostram que o jogo nacional – do conflito direita versus esquerda, Lula versus Bolsonaro – só se repete diretamente em alguns casos. Mesmo nessas situações, o eleitor afirma que outros pontos são mais relevantes para a decisão do voto, especialmente a trajetória do candidato, realizações pretéritas e as famosas “promessas de campanha”, que ainda contam mais para a maioria dos entrevistados do que a defesa de “um lado” do jogo visto no pleito de 2022.

Retornando ao aspecto que nos interessa diretamente aqui, há uma movimentação evidente no Congresso após os resultados das urnas, devido à troca na Câmara dos Deputados dos deputados federais vitoriosos na disputa pelos suplentes. Vale ressaltar que, apenas para as capitais, em 2022, os deputados federais Edmilson Rodrigues (PSOL/Belém), João Henrique Caldas (PL/Maceió), João Campos (PSB/Recife) e Eduardo Braide (PSD/São Luís) foram eleitos prefeitos.

Indiretamente, os deputados federais e senadores que se aventuram no pleito municipal contam com algumas vantagens na disputa em relação àqueles “sem cargo”. Chamo a atenção para a ativação simplificada de equipes já estabelecidas para o planejamento da campanha, incluindo a movimentação crucial das redes sociais do mandato parlamentar. Mesmo que a legislação proíba o uso de seus canais digitais para isso, há formas sutis e amplamente utilizadas para cumprir essa regra. O acesso mais facilitado ao eleitorado – a partir do precioso mailing – em ações online e offline destaca os parlamentares na disputa, seja na própria campanha ou de seus aliados. Independentemente da vitória no pleito em 2024, toda essa movimentação favorece a realização de outros passos na progressão da carreira política, afinal, como diz o ditado, quem não é visto não é lembrado.