*Cláudio André de Souza

 

A disseminação de movimentos de renovação política é uma das principais novidades da nossa democracia nas últimas duas décadas. Em termos gerais, tais movimentos se se assemelham a uma “escola de educação política que prepara pessoas comuns de diferentes origens e ideologias para renovar a democracia brasileira”, conforme definição do RenovaBR, um dos movimentos com mais participantes matriculados no Brasil, que já formou 2.151 alunos de 30 partidos diferentes nos últimos anos. Os grupos de renovação tiveram candidatos em 29 dos 33 partidos do país nas eleições municipais de 2020.

Por que investir na formação de uma nova geração? A percepção geral destes movimentos, conforme diagnósticos sobre as democracias no mundo, confirma que estamos vivendo um afastamento sistemático das pessoas em relação aos partidos, bem como ainda estamos longe de ver a maioria dos eleitores vivenciando fortes vínculos na relação com os representantes eleitos. Este cenário de crise da representação foi problematizado pelo cientista político francês, Bernard Manin, ao debater o conceito de “democracia do público”, uma espécie de rearranjo institucional no qual os eleitos personificam a sua relação de representação.

Por outro lado, segundo ressalva do autor, as campanhas eleitorais mantêm-se relevantes e os partidos passaram a se “reinventar” para continuar tendo influência nas sociedades. Para ele, a representação implica que os governos sejam responsivos aos anseios dos representados.

De modo geral, os grupos de renovação se fundamentam nesta direção, ao invocar a formação política de novas lideranças mais responsivas, que ajudem a criar mandatos mais comprometidos com a participação e com valores contrapostos á “velha política”.

Essa missão destes grupos, no entanto, precisa ir além e não pode, decerto, renunciar à necessidade de focar na atenção às carreiras políticas do público jovem. A criação de novas lideranças passa pela seleção de jovens que possam cumprir um ciclo de imersão à médio prazo por dentro do sistema partidário. Em outras palavras, quem enfrentará no processo democrático o patrimonialismo, enquanto uma antítese da ideia de república? Quem defenderá no dia a dia uma nova forma de fazer política distante do familismo, da patronagem e do abuso econômico? De onde veremos novas lideranças que estejam firmemente convictas em não se resumir a operadores de recursos ilícitos?

Nessa direção, ao analisarmos os dados de uma pesquisa inédita dos cientistas políticos Bruno Silva e Humberto Dantas (ver Tabela abaixo) sobre as candidaturas a vereador no Brasil vemos o quanto distante estamos desse foco. Em cinco eleições aos legislativos municipais (2000-2016), as candidaturas de jovens até 24 anos se restringiram à faixa de 3,43% a 3,88%. Com poucas candidaturas, há grande chance de haver poucos eleitos. Em 2020, foram somente 3,25%.

 

Tabela – Quadro das eleições municipais para vereador por faixa etária (Candidatos)

Nas eleições de 2018, quando começaram a surgir com mais efervescência os movimentos de renovação política, os jovens de 18 a 24 anos candidatos a deputado estadual foram somente 2,23%, nas eleições deste ano são somente 1,27%. Já os jovens candidatos a deputado federal em 2018 foram parcos 1,54%. Nas eleições deste ano, disputam um cargo na Câmara somente 1,11% de jovens dos 21 aos 24 anos (deputados federais se elegem a partir dos 21 anos de idade).

Qual a saída? No âmbito da legislação, podemos debater se não seria importante aperfeiçoar nossos sistemas eleitoral e partidário com a reserva de 10% das candidaturas a vereador para jovens de 18 a 24 anos e a obrigatoriedade de custeio das juventudes partidárias voltada para ações de formação de lideranças. Sem enfrentar a necessidade de dar protagonismo às carreiras políticas jovens, a “velha política” continuará lacrando e dominando os partidos. Afinal, não há renovação política sem valorizar e pensar a centralidade das organizações partidárias para a democracia.