Geraldo Alckmin e o retorno do presidencialismo de coalizão
*Cláudio André de Souza
Diante da crise de representação que vivemos nos últimos anos em torno do sistema político brasileiro, virou lugar comum refletir os limites institucionais dos “vices” e o protagonismo diante das estratégias eleitorais e a relação que devem ter após eleitos, sem que se tornem “decorativos”, nem nutram forte expectativa de entrarem efetivamente em campo para assumir a titularidade do cargo.
Desde a reta final da campanha presidencial, Lula (PT) e o seu candidato a vice-presidente, ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), deram sinais de que estavam convencidos que, caso eleitos, deveriam reeditar o presidencialismo de coalizão em torno de um equilíbrio político entre as forças governativas, sem um “hegemonismo” dos petistas, algo essencial para a chegada de novos apoiadores ao longo do segundo turno.
Ao acenar a necessidade de uma frente ampla pela democracia contra o bolsonarismo, Lula teve em Alckmin um aliado político experiente e destacado para assumir o protagonismo das articulações com setores da sociedade civil e da classe política que se mantiveram distantes do PT desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), confirmando uma chapa com compromissos ideológicos voltados para o centro e a direita democrática.
Esta estratégia deu certo, garantindo a eleição de Lula contra o primeiro presidente, desde 1998, que ficou pelo meio do caminho sem conseguir se reeleger. O compromisso de Lula de construir um governo mais plural se deu no dia seguinte à vitória, pois, a sua fórmula governativa privilegiou uma transição com a maioria dos aliados, rompendo com o modelo do atual presidente, o qual a concentração de poder e o desequilíbrio entre as forças partidário-regionais ditaram a composição do seu governo. Basta recordar que Bolsonaro buscou na nomeação de membros das Forças Armadas um claro sinal de que pretendia aparelhar e cooptar militares como atalho para constranger as instituições, como se os militares fossem algum tipo de partido político.
A transição do próximo governo apresenta algumas estratégias que são relevantes na perspectiva de entender os desafios de governabilidade do terceiro mandato de Lula: a) com Alckmin liderando a transição, Lula usa um líder nativo da direita para negociar pactos e compromissos com segmentos que agora necessitam com cautela de uma reaproximação do grupo político vencedor; b) um vice-presidente fortalecido desde a transição legitima o retorno de um presidencialismo de coalizão que confira previsibilidade nas decisões e estabilidade política a curto prazo, contando com as forças partidárias como elemento estratégico para alcançar uma maioria governista no Congresso; c) colocar o vice-presidente na Coordenação da Transição reforça o peso que esse momento exige na reconstrução das políticas públicas, uma tarefa burocrática que não tem visibilidade pública, mas será essencial no desenho das capacidades estatais na implementação de medidas a curto prazo; d) por fim, termos um vice-presidente da Região Sudeste, selando o retorno a um padrão recorrente de representação política desde a redemocratização. A região concentra nada menos que 42% do eleitorado brasileiro.
Créditos da imagem: Ricardo Stuckert