Humberto Dantas

 

Desde 1991 o Senado tem a composição atual de 81 componentes, com três representantes de cada um dos 27 estados brasileiros. Até 2022, o PMDB/MDB teve as maiores bancadas anuais, com exceção feita ao PFL/DEM/UBR no biênio 1997-1998. Note: foram cerca de 30 anos de hegemonia. Mas a ascensão do fenômeno de uma direita mais intensa desde 2018, fez com que, considerando a soma dos dois terços eleitos em 2018 ao terço escolhido em 2022, somados às mudanças partidárias e às suplências que não precisam respeitar a legenda dos titulares, o PL despontasse como o maior partido do Senado a partir de 2023.

Diriam os jovens em uma linguagem mais descolada: “só que não”, ou #sqn. Por que?

Antes de responder, algo precisa ser dito: as bancadas partidárias no Senado, faz alguns anos, já não são tão grandes como antigamente. Entre 1991 e 2006 o maior partido possuiu sempre, ao menos, 20 senadores –quase 25% da Casa – ou mais, superando 25 membros em seis anos entre 1991-2001. Já entre 2019 e 2022 a maior legenda chegou, no máximo, a 15 senadores, o que aparentemente enfraqueceu certa lógica informal de a maior agremiação presidir a casa. O PL, nessa realidade, estava sendo cotado como o maior partido do Senado a partir da posse dos eleitos em 2023, mas algo ocorreu.

O PSD conseguiu elevar seu bloco esperado de 11 para 16 senadores, e voltou a dar sentido ao controle da Casa pela maior bancada com Rodrigo Pacheco, lembrando que em seu primeiro biênio no comando (2021-2022), o MDB tinha o maior agrupamento. O PSD saiu das urnas no ano passado, assim, com a expectativa de ter a segunda maior bancada, mas oportunamente o partido deu mostras do quanto o governismo pode ser algo atraente, naquela lógica adesista tradicional que caracteriza o que se convencionou chamar no Brasil de Centrão.

Lembremos: o partido, nascido em 2011 sem discurso ideológico, encontrou em seu hábil presidente nacional, Gilberto Kassab, a resposta à sua posição no espectro de valores: “nem de esquerda, nem direita, nem de centro, mas a favor do Brasil”. Parte de sua estratégia à ocasião estava associada à retirada de quadros do DEM, que fazia oposição ao PT no Congresso, permitindo que aderissem ao governo de Dilma Rousseff (PT) pelo partido nascente. Percebe?

Em 2022, Kassab não conseguiu participar da chapa de Lula formalmente, tampouco lhe deu apoio verbal no segundo turno. O mesmo comportamento foi adotado em relação a Jair Bolsonaro. Pergunta: onde estaria o PSD nesse instante se o resultado do pleito presidencial fosse diferente? Provavelmente, no governo, sob um preço. Assim, se as diversidades ideológicas e ocasionais foram respeitadas eleitoralmente, a ponto de Alexandre Khalil (PSD) receber o apoio formal do PT em Minas Gerais, assim o fez com Marcelo Freixo (PSB) no Rio de Janeiro, e ao mesmo tempo fechar com o bolsonarista Tarcísio (Republicanos) em São Paulo e o paranaense Ratinho Júnior (PSD), bastaram as eleições terminarem e a fatura apareceu.

O PSD, que ficou neutro no pleito presidencial, tirando de circulação preciosos minutos de propaganda eleitoral que podiam ajudar Bolsonaro, de Lula cobrou DOIS ministérios e o apoio do governo na reeleição do presidente do Senado. Resultado? O governo pagou mais: foram três pastas para o PSD, incluindo a Agricultura, extremamente estratégica à realidade ideológica e econômica do Brasil. Notou? A pergunta que fica agora é: tamanho esforço do Planalto entregará votos em instantes estratégicos no Congresso Nacional? Cedo para saber, mas definitivamente, hoje em dia, acompanhar os movimentos do PSD é compreender facilmente o sentido maior da lógica governista em nossa política.

Nesse sentido, com tamanho poder no Senado e tamanha flexibilidade ideológica, a missão de reeleger Rodrigo Pacheco dependia apenas de esperar algumas semanas e fazer um bom trabalho de bastidor para que fosse possível vencer Rogério Marinho (PL-RN), angariando adeptos. E foi justamente o que ocorreu. Já em dezembro de 2022, Samuel Araújo, de Rondônia, deu mostras de que viver na oposição não seria tão atraente, deixando o PL. Zenaide Maia, do Rio Grande do Norte, saiu do PROS na mesma direção. Em janeiro, o PSDB, desprestigiado no governo federal, cedeu a paulista Mara Gabrilli, mesmo caminho da maranhense Eliziane Gama, que deixou o Cidadania, lembrando que tais legendas de origem dessas duas senadoras formaram uma federação. Pronto. Chegamos a 15, e isso só ocorre porque pelo entendimento da lei, eleições majoritárias, formato pelo qual elegemos o Poder Executivo e os senadores, dão aos escolhidos a posse do mandato. Ou seja: senadores podem estar onde quiserem, pois são donos dos oitos anos de contrato com o povo.

Mas ainda tem mais, pois o PSD tem nesse instante 16 senadores. O ministro Wellington Dias (PT), ex-governador do Piauí, ao assumir o cargo no Poder Executivo, abriu espaço para sua primeira suplente. E quem estava coligado na chapa majoritária? O PSD. Mais uma, restando apenas compreender se o PSD será governo, oposição ou independente, pois de direita, de esquerda ou de centro, ele já disse que não é. Com um detalhe: o partido pode ter pavimentado o caminho para se tornar o porto seguro da desoxigenação do bolsonarismo na Casa, lembrando que foi esse movimento que em parte inspirou Kassab a criar seu partido em 2011.

E aí, pessoal de Progressistas e Republicanos? Vão ficar apenas assistindo?