A Reforma Tributária e a crise do bolsonarismo
Carolina de Paula
A votação do texto da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados na última sexta feira, dia 8 de julho, trouxe um experimento sobre o que é fazer oposição em um país regido pelo presidencialismo de coalizão e o federalismo. Ouvimos falar de Reforma Tributária desde sempre, e a posição do estado de São Paulo – deputados, senadores e governador em exercício – sempre serviu como fiel da balança para que a discussão andasse ou não.
Tradicionalmente vista como “agenda da direita”, a Reforma Tributária parece finalmente avançar justamente em um governo de esquerda. Os líderes da direita encontram-se em um tipo de paradoxo. A opção em embarcar na Reforma e votar sim poderá dar ao atual presidente uma vitória significativa. Porém, “ser contra” terá um custo alto. É claro, sempre se poderá argumentar que se trata de um tipo muito específico, e negativo, de Reforma, inadequada aos interesses do seguimento.
O ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), que vinha se mantendo longe de influenciar os rumos das decisões legislativas do campo conservador – vide seu longo silêncio nas redes sociais e mesmo o tempo distante do país – resolveu que na votação da Reforma Tributária ele se faria ouvido. Talvez a condenação que trouxe sua inelegibilidade tenha influenciado a decisão, mas o fato é que foi público – o vídeo circulou em todas as mídias – a reunião entre ele e os principais players, especialmente aqueles com mandato, da direita próxima, lideranças do PL e do Republicanos. O destaque ficou para a posição do atual governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Bastante favorável ao texto da Reforma, inclusive atuando nos bastidores pela aprovação, o governador passou por um forte constrangimento ao ter sua fala cortada pelo próprio Jair Bolsonaro, nitidamente irritado.
É importante termos em conta que a inelegibilidade de Bolsonaro até 2030 abre, ainda que silenciosamente, uma disputa para a posição de presidenciável da ala conservadora em 2026. Independentemente das motivações para aprovar o texto da Reforma, puramente administrativas como líder do estado que mais arrecada impostos ou com fins eleitorais para 2026, Tarcísio já era visto como potencial liderança presidenciável, haja vista a importância eleitoral do estado de São Paulo. A ala mais próxima de Jair Bolsonaro na ALESP e no Congresso já prometeu dificultar a vida do governador, visto para alguns como “traidor”.
E os eleitores bolsonaristas, o que pensam disso tudo? Sabemos, através de pesquisas, que o assunto da Reforma Tributária é um dos mais complexos e de difícil compreensão para o cidadão comum. Uma pesquisa qualitativa realizada na sexta-feira por pesquisadores do LEMEP- IESP, com dois grupos de eleitores que votaram em Jair Bolsonaro em 2022, revela que Tarcísio pode ter feito a melhor escolha se considerarmos apenas os eleitores moderados, ou seja, aqueles que rechaçaram os atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Para esse seguimento, brigas e disputas devem ser postas de lado em temáticas que beneficiem a população. É preciso tomar decisões que sejam do “interesse do povo” e não em paixões.
Agora, para o seguimento de bolsonaristas convictos, aqueles participantes da pesquisa que apoiam os atos do 8/1, Tarcísio deveria ouvir e respeitar a opinião de Jair Bolsonaro. Para alguns, o sentimento de traição já emerge, tal como noticiado na imprensa no que tange aos líderes políticos próximos ao ex-presidente.
Parece que mais uma vez Jair Bolsonaro faz movimentos que agradam sua base mais hard core e apaixonada de seguidores. O que vimos na eleição de 2022 foi a derrota dessa estratégia tão nichada. Com a inelegibilidade e posições cada vez mais extremistas, o ex-presidente parece perder cada vez mais o seu espaço de protagonista do campo conservador.