Humberto Dantas

 

Compreender o que o jovem, sobretudo de ensino médio, pensa sobre política é um desafio acadêmico dos mais expressivos que contribui para análises acerca do estado da Cidadania no Brasil. Não são poucos os estudiosos que se debruçam sobre o tema, e toda pesquisa merece atenção nesse sentido.

Nos últimos meses um grupo de alunos de graduação em Gestão Pública e Gestão Financeira da Escola de Ensino Superior da Fipe visitou turmas matutinas de segundo ano do ensino médio de quatro escolas públicas de São Paulo, incluindo aqui unidades que ofertam o ensino técnico. Sem rigor amostral, o objetivo era compreender, junto a tal público, a percepção sobre a disseminação, importância e interesse atrelados a conteúdos de cidadania e finanças pessoais. Os resultados merecem a atenção, com base em 277 entrevistas sob a lógica de autopreenchimento de questionários aplicados em sala.

A mais relevante notícia é que existe significativo interesse pelos temas apresentados, algo que faz anos tem sido percebido sobre política em estudos que realizo. Numa escala percentual adaptada é de quase 80% a adesão à sentença “eu tenho interesse em entender mais sobre Cidadania” e ultrapassa muito discretamente 90% quando a frase é “eu tenho interesse em entender mais sobre Finanças Pessoais”. O resultado se mantém relativamente semelhante quando a posição está associada à expectativa de tais conteúdos estarem presentes formalmente na escola: o índice atinge 76% em “Educação Política deveria ser uma matéria escolar” e 91% quando o objeto central é a Educação Financeira. Em resumo: os jovens têm interesse e concordam que precisam de tais conteúdos na escola, existindo um desafio adicional associado à realidade educacional. Assim, se por um lado a demanda parece alta, por outro a oferta não parece atender parte dos anseios de tais estudantes. É de 39% o grau de concordância com a frase “a escola me ajuda a entender questões de educação financeira”, o que sobe para 50% quando o assunto é política, ou seja, existe algo aquém do que se deseja, e Finanças parecem interessar mais ao público que está na metade do ensino médio e já tem idade para o mercado de trabalho, destacando que 22% deles afirmam trabalhar com regularidade.

O interesse por tais conteúdos também se faz presente na maneira como os entrevistados consomem informações. Diante de nove fontes distintas, divididas entre notícias políticas e econômicas, apenas 15% disseram não consumir ao menos uma delas com muita assiduidade. A média de fontes consumidas é de 4,5 com destaque para sites, redes sociais, aulas e televisão, com mais de 30% de “uso muito” tanto em política, quanto em economia. Este segundo tema ainda ultrapassa 30% com o YouTube, que fica em 22% para a política. As principais formas de interação do público com tais temáticas são virtuais ou atreladas a aulas. A leitura de livros e de revistas/jornais impressos, bem como o uso do rádio, formatos mais tradicionais de consumo de informação, ficam aquém de 10%. Aqui, apenas a TV se salva.

Tendo em vista tal realidade, especificamente quando questionados sobre doze conteúdos associados aos universos financeiro e político, a adesão é maior aos temas da economia, a despeito de nenhum resultado ficar aquém de 60% de interesse. Nesses casos, “Planejamento financeiro e controle de gasto” (91%) e “Renda extra e formas de ganhar dinheiro” (90%) foram os campeões de audiência, enquanto “Convívio, diálogo, respeito e diversidade” (79%) foi a temática atrelada à Cidadania mais bem votada.

A partir de tais resultados, o desafio da Escola de Ensino Superior da Fipe é formatar, com seus estudantes, como parte de uma disciplina aplicada de Extensão, conteúdos que mesclem as realidades de Finanças e Cidadania e possam ser ministrados em cursos livres para jovens de Ensino Médio das escolas parceiras do projeto. Tudo isso com o objetivo de levar adiante dois desafios: inserir socialmente o universitário sob uma lógica do compromisso com o desenvolvimento comunitário, e contribuir com um adensamento do senso crítico, sobretudo nas realidades de onde os alunos da Fipe vieram, tendo em vista que todos são bolsistas integrais egressos de escolas públicas.

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