Michelle Fernandez e Elena M. Barahona

No último domingo os espanhóis foram às urnas eleger um novo parlamento que, por sua vez, formará um novo governo. O pleito foi apresentado ao público como um enfrentamento entre os apoiadores de Pedro Sanchez (Partido Socialista Obrero Espanhol – PSOE), atual presidente de governo, e o “anti-sanchismo”, liderado principalmente pelo conservador Partido Popular (PP) e pelo partido de extrema-direita VOX. No entanto, nessas eleições estava em jogo muito mais do que uma alternância política nacional. Estava também no centro do debate a incorporação da extrema-direita em mais um governo nacional da União Europeia.

 

Essas eleições foram precedidas por eleições municipais e regionais que trouxeram a resultados muito ruins para o atual governo de coalizão (PSOE-Unidas Podemos). O atual presidente de governo, conhecido por sua resiliência, propôs um adiantamento das eleições um dia depois conhecer os resultados das eleições municipais e regionais. Foi uma jogada arriscada, mas imediatamente dois blocos foram formados: por um lado, o previsível bloco à direita formado pelo PP e pelo VOX e, por outro lado, o bloco de esquerda formado pelo PSOE, e por seu parceiro Unidas Podemos. O bloco PSOE-Unida Podemos vem sofrendo com um certo desgaste devido à pandemia e a algumas discrepâncias sobre políticas públicas. Os resultados eleitorais ruins de Unidas Podemos, unido à convocatória precipitada das eleições, levaram à candidatura de um movimento eleitoral alternativo à esquerda do PSOE: SUMAR. Esse novo movimento é liderado pela atual ministra do Trabalho e vice-presidente Yolanda Díaz e vinha sendo gestado durante o final desta legislatura.

 

A campanha eleitoral foi árida, dura, repleta de mentiras e até de questionamentos sobre sua legitimidade. Os 2,5 milhões de votos pelo correio, mecanismo de votação instituído no sistema eleitoral da Espanha, tiveram questionamentos levantados pelo Partido Popular. A mídia também não ajudou a manter uma campanha limpa e sem mentiras.

 

O dia da eleição foi intenso. Muita participação nas primeiras horas e nas últimas da jornada eleitoral, evitando as horas de calor máximo do verão espanhol. Uma apuração rápida, que lembrava a apuração das eleições presidenciais no Brasil. E um cenário final inesperado para muitos.

 

As pesquisas davam vantagem à direita. Ainda que os erros de campanha do Partido Popular somados a uma excelente mobilização do Partido Socialista, encabeçado por seu ex-presidente José Luis Rodríguez Zapatero, sugerissem uma volta por cima da esquerda, isso não se viu refletido nas urnas. O PP elegeu o maior número de cadeiras do parlamento, ainda que não tenha conseguido levar o maior número de cadeiras. Estamos diante de um resultado eleitoral complicado para o processo de formação de governo.

 

Lembremos que na Espanha estamos diante de um regime parlamentarista. Sendo assim, o governo será formado por quem reunir a maioria das cadeiras ou dos apoios necessários no Congresso. Não basta vencer as eleições, é preciso obter os votos da maioria da Câmara de Deputados. Nesse sentido, o Partido Popular venceu as eleições, levando 136 cadeiras, e aumentou sua presença no Congresso, mas seu parceiro natural VOX perdeu quase 20 deputados, deixando o bloco de direita longe da maioria absoluta necessária para governar, que representa 176 cadeiras. Na esquerda, o PSOE, com 122 cadeiras, manteve o desempenho das eleições anteriores. No entanto, o Partido Socialista tem uma maior capacidade de conseguir apoios de outros grupos parlamentares, incluindo o SUMAR e alguns partidos nacionalistas.

 

O Partido Popular e seu discurso “anti-sanchista” inviabiliza a grande coalizão (PP-PSOE) e, até mesmo, o apoio de outros possíveis parceiros por negar a pluralidade da realidade espanhola. Além disso, a aproximação com o VOX impede a criação de acordos com outros partidos nacionalistas. Portanto, o cenário futuro de um governo do Partido Popular é improvável e a retomada do governo progressista de Sánchez difícil, mas não impossível. O perigo de caminhar para um novo processo e eleitoral, e com ele a possibilidade de um resultado melhor para o bloco de direita, será um grande incentivo para tentar formar um governo e nomear Sánchez seu presidente.

 

Estamos diante de um recuo da extrema direita no parlamento espanhol e de um provável novo governo de esquerda. No entanto, talvez tenhamos que esperar até meados de agosto para saber em definitivo quem estará na dianteira desse país ibérico. O cenário é incerto. Agora é a vez do Jogo Política!