Reforma política é tema central em seminário de ministro do STF
Nessa segunda, dia 16, aconteceu o seminário Reforma política e suas alternativas para aprimorar a democracia no País, com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, que havíamos anunciado aqui no site. O evento foi organizado pelo PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) e pela Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), com apoio do Movimento Voto Consciente.
Reunindo aproximadamente quatrocentas pessoas, entre empresários, docentes, universitários, jornalistas, profissionais do Direito, lideranças e representantes de entidades ligadas à prestação de serviços, o evento durou cerca de três horas. Estiveram presentes também nossa diretora vice-presidente, Rosangela Giembinsky, a diretora presidente, Marina de Barros e uma das fundadoras do Movimento Voto Consciente, Ina Ouang.
Luís Roberto Barroso falou sobre a importância e a dificuldade de se debater, no país, temas relevantes para toda a sociedade brasileira, como a reforma política, por exemplo. A distância entre os políticos e a sociedade é, segundo ele, um dos grandes obstáculos para o debate público sério e necessário.
Quanto ao tema central do seminário, o ministro se mostrou totalmente favorável, afirmando, inclusive, que a democracia brasileira será fortalecida quando houver uma reforma política que aprimore as bases do processo eleitoral. Porém, há empecilhos para sua consolidação no país, como o fato de muitos dos políticos ainda não estarem convencidos de que a reforma seria de fato boa, pois foram eleitos nas regras atuais do sistema político eleitoral, e o fato de grande parte da população não conseguir formar opinião a respeito, por não entender muito bem o que significa a reforma política, o que pode e o que não pode, mesmo porque ela envolve conceitos técnicos – o que tem relação direta com a falta de debate público.
Para ele, a reforma envolve três grandes eixos de mudanças: sistema de governo, sistema eleitoral e sistema partidário. Barroso identifica as causas destes eixos no hiperpresidencialismo e na dispersão partidária, no sistema de custo eleitoral elevado e no baixo grau de representatividade.
A ideia de solução do ministro seria um sistema presidencialista atenuado, um semipresidencialismo, com possibilidade para parlamentarismo. Nesta proposta, Luís Barroso explica que o presidente continuaria com certas competências, como nomeação de cargos e apresentação de projetos de lei, mas quem conduziria a administração pública seria o primeiro-ministro, com indicação aprovada pelo Congresso Nacional, sujeito aos conflitos e embates do país e podendo ser destituído sem nenhum abalo para as instituições. Ele ressalta que, para isso, é preciso saber e ouvir, é claro, a vontade e a decisão da população brasileira, ou seja, precisaria ser uma deliberação conjunta dos brasileiros.
Boa parte da crítica do ministro está também baseada no sistema eleitoral atual que, segundo ele, distancia os eleitores dos eleitos, desmotivando-os a participar. Para ele, a representatividade dos cidadãos, no sistema eleitoral proporcional com lista aberta, pode ser menor, pois pode eleger representantes que não são exatamente eleitos pelos votos que tiveram em si, mas produzidos pelo sistema proporcional. “O efeito: menos de 10% dos candidatos eleitos para a Câmara dos Deputados foram eleitos com votação própria. Ou seja, o eleitor só colocou por escolha própria cerca de 7% dos eleitos”.
Barroso comentou sobre outros sistemas eleitorais, como possível solução: distrital misto, o distritão e o sistema de lista fechada, defendendo o distrital misto. “O eleitor tem dois votos. Um no distrito e o segundo voto no partido. Metade dos eleitos na Câmara é pelo voto distrital e a outra metade pela proporção no voto partidário. A verdade é que o voto distrital já foi aprovado na experiência brasileira, mas não vigeu efetivamente”. Ainda assim, Luís Barroso destacou que é preciso pensar também em outras possibilidades de formas e regras para colocar se em prática – o importante é enfrentar essa questão agora, este é o momento.