*Texto escrito no âmbito da disciplina de Análise Política, de autoria de Andrei Mairro e Luana Gonçalves, pós-graduandos em ciência política na FESP-SP.

As eleições para os comandos da Câmara e do Senado não trouxeram apenas mudanças nas presidências de cada casa. Após dois anos sob a chefia de Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados está sob responsabilidade do deputado Aécio Neves (PSDB/MG), que carrega importante papel político dentro de seu partido e nas esferas local e nacional, mas que se encontrava afastado da mídia desde o escândalo da JBS, em 2017. A decisão ocorreu após um acordo político feito com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), e confirma que o deputado mineiro mantém importante papel nas articulações do PSDB e nos bastidores políticos de Brasília.

Aécio Neves, que já foi Presidente da Câmara entre 2001 e 2002, sinalizou que pretende resgatar pautas históricas dos tucanos, como uma política externa mais atuante. Entre os principais pontos, estaria a ratificação do tratado comercial Mercosul-União Europeia pelo Congresso, que exigirá um esforço de coordenação legislativa internacional junto ao Parlamento Francês, principal ponto de resistência ao acordo, em grande parte pelas críticas à política ambiental brasileira.

Em segundo lugar, está a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Vale destacar que a defesa por uma maior aproximação com o bloco dos países mais desenvolvidos, e seu eventual rompimento com a Política de Cooperação Sul-Sul iniciada com o PT, se deu justamente após a chegada de José Serra (PSDB) no Ministério das Relações Exteriores durante o governo Michel Temer. Tal processo teve continuidade com a gestão do também tucano Aloysio Nunes na pasta, mas foi ofuscado após a polêmica passagem de Ernesto Araújo, crítico ferrenho ao globalismo e defensor do trumpismo. Assim, o PSDB agora retoma um local estratégico na coordenação da política externa brasileira, desgastada após os inúmeros conflitos do atual governo com os demais órgãos e instituições internacionais.

Ao relembrarmos o comportamento de Bolsonaro em seus discursos dirigidos aos Estados Unidos, tanto oficiais, quanto extraoficiais ao longo deste mandato, com insistente afeição às políticas norte americanas, fica clara a predileção por essa administração em um nível quase que de aprendizado, buscando a aprovação estadunidense em contrapartida ao desbotamento do Brasil no cenário internacional que anteriormente realizava todo um caminho de ascensão à líder dos países em desenvolvimento.

A chegada de Aécio à presidência, e ainda por seu discurso inicial bastante enfático ao não alinhamento automático aos Estados Unidos, mostra como o PSDB parece querer firmar seu distanciamento das atitudes tomadas até agora pelo governo federal em prol da ampliação na atuação pelos temas globais e retomada da sua influência diplomática.

Com a substituição de Eduardo Bolsonaro pelo tucano no comando da Comissão com o suporte de Lira, fica compreensível que o presidente da Casa e o Centrão até podem manter um apoio ao presidente no Congresso, mas as opiniões do bolsonarismo nas Relações Exteriores da Câmara já não são mais tão bem-vindas.