Política na era digital: como as redes sociais estão mudando a representação parlamentar no Brasil e no mundo
Djiovanni Jonas França Marioto
É sabido há tempo a importância da internet no cotidiano brasileiro. O avanço na disponibilização de internet nas regiões, em conjunto com a popularização dos dispositivos móveis, transforma não só a vida dos brasileiros, como também a forma na qual o governo lida com esse processo, digitalizando suas funções, serviços e armazenamento de dados. Por outro lado, a internet, especialmente as redes sociais digitais, possibilitam a conexão com parentes, amigos e, nesse caso específico, com governantes e representantes popularmente eleitos.
Em outros momentos, pesquisadores já alertavam que a ciência política estaria cada vez mais aliada ao digital. E, nesse sentido, é possível complementar que não só a disputa política, como também o processo de governança está cada vez mais digital, especialmente o processo de representação, ou seja, de se sentir representado e estabelecer diálogo com políticos, com foco neste momento nos deputados federais.
A competição por atenção, antes observada apenas entre influenciadores digitais, celebridades e outros personagens que atraem nossa atenção nas redes sociais, agora também pode ser vista na política, a partir da construção de páginas, perfis e contas nas mais diversas plataformas (Facebook, Twitter, TikTok, Youtube, Instagram, entre outras), buscando maximizar o alcance de sua voz, expandir sua representação e eleitorado, ao buscarem números de seguidores, engajamento e segmentações comunicacionais. Dessa forma, os políticos buscam conversar diretamente com seus representados sem mais intermédio de outros meios de comunicação, aproximando ambos os lados.
Esse fenômeno claro, não vem de agora e também não é exclusivo da política brasileira, permeando atores de diversos lugares do mundo, como é o caso de figuras de fora da política ocupando altos cargos, comumente chamados de outsiders, por se declararem não mais como políticos, mas sim com suas profissões e atuações que antecedem sua entrada nessas instituições. Um bom exemplo desta relação dos parlamentares com a internet foi denominado bancada da selfie, dentro da Câmara Legislativa em 2014, a qual trazia parlamentares que tinham o foco de sua mobilização dentro das redes sociais digitais, fazendo lives e trazendo um alto engajamento e tendo essa comunicação direta com seus representantes em tempo real.
Para tanto, é importante considerar as implicações desse processo de digitalização na política, tanto em termos de aproximação e representação, quanto em termos de transparência e democratização do processo político. Além disso, é importante questionar se essa maior presença dos políticos nas redes sociais é realmente benéfica para a sociedade e se está contribuindo para uma maior participação cidadã e engajamento político.
A partir disso, a pergunta que fica é: esse é um fenômeno exclusivo de alguns parlamentares ou, com o avanço da tecnologia, a nossa vida é permeada por essas plataformas? Dessa forma, forçando os políticos a se adaptarem a esse meio e estarem presentes nas redes sociais e acabarem trazendo uma comunicação direcionada para elas.
Para responder o questionamento, parte-se do banco de dados disponibilizado pelo TSE com as características socioeconômicas, em conjunto com uma análise de conteúdo, consolidamos as informações de todos os deputados(as) eleitos, com a presença nas redes sociais em conjunto com o seu número de seguidores e inscritos (coletados entre 30 de outubro e 11 de novembro).
Como já exposto aqui anteriormente, “Desses deputados 82,3% são homens, enquanto apenas 17,7% são mulheres. Ao observar a raça/cor dos eleitos 71,9% são brancos, enquanto são 21,1% de pardos e 5,3% de pretos, foram eleitos apenas cinco indígenas e três amarelos (menos de 2%). Ao observar a idade, percebemos que em sua maioria possuem 46 anos e a média da idade da Câmara dos Deputados é de 49,9 anos. A maior parte dos eleitos têm Ensino Superior completo (83%) e a advêm de outros cargos e mandatos na política como é o caso de “deputado” (48,9%). Quando observamos a taxa de renovação, foram apenas 44,8% enquanto a sua maioria já esteve na legislatura anterior (55,2%)”.
Partindo para a presença desses atores dentro das redes sociais, o Instagram é a plataforma com a maior presença dos deputados, com 99,8% de utilização, sendo que apenas o Deputado Albuquerque (Republicanos) não possui uma conta válida. A segunda rede mais utilizada é o Facebook, com 98,6% de presença, tendo apenas alguns deputados não apresentado uma página válida ou ainda utilizado perfis pessoais para se comunicar. O Twitter aparece logo em seguida com 91,2% de presença dos eleitos, sendo que apenas 45 não faziam uso da plataforma. Já o Youtube, uma plataforma muito utilizada como repositório de vídeos de campanha e lives, possui 80,9% de presença, não sendo encontrada páginas de 98 deputados no momento da coleta.
Importante destacar que está ocorrendo uma mudança nas redes sociais mais utilizadas pelos políticos, estudos de 2012 e 2014 demonstravam que o Facebook tinha a hegemonia entre os parlamentares, algo que vem se modificando ao longo do tempo dando espaço a outras formas de comunicação como a imagética a qual é o foco do Instagram.
Considerando o crescimento do TikTok na sociedade brasileira, incluímos essa plataforma nesta pesquisa. É importante destacar que, embora a plataforma seja amplamente utilizada para vídeos de entretenimento, isso não impede que criadores de conteúdo distribuam conteúdos com debates acerca de questões eleitoreiras, sociais e identitárias que corram paralelamente aos vídeos mais convencionais. Em pesquisa exploratória da hashtag #política em contas brasileiras, um pesquisador da UFPR, Kleina, detectou o potencial de produção de conteúdo políticos na plataforma onde as eleições de 2022 possivelmente serão as primeiras com aproveitamento massivo do serviço por partidos. Estes achados se refletem dentro da presença digital dos deputados na plataforma, onde 61,8% (317 deputados) possuíam conta ativa, ao passo que 38,2% (196 deputados) não utilizavam a plataforma, demonstrando que seu uso vai além de apenas entretenimento, para também fomentar uma comunicação direta com a população, em especial os mais jovens, os quais são a maioria dos usuários da rede social.
A internet tem um papel cada vez mais importante na vida dos brasileiros, tanto na forma como o governo lida com seus processos e serviços, quanto na forma como as pessoas se conectam com seus representantes políticos. A ciência política está cada vez mais ligada ao digital, e o processo de representação está cada vez mais presente nas redes sociais. Políticos buscam maximizar o alcance de suas vozes e expandir sua representação e eleitorado através das mais diversas plataformas, buscando conversar diretamente com seus representados sem intermédio de outros meios de comunicação. Esse fenômeno não é exclusivo da política brasileira. Com o avanço da tecnologia, é cada vez mais comum ver políticos utilizando as redes sociais como meio de comunicação direto com seus representados e expandindo sua presença nesse meio, o que mostra que a presença constante nas redes sociais não é exclusiva de alguns parlamentares, mas sim uma tendência crescente na política contemporânea.